Conto Erótico: A Visitação.
- Ciro da Pérsia
- 11 de mai. de 2017
- 6 min de leitura
Atualizado: 2 de out. de 2021

Recebi do Jardim Botânico a ligação de um jovem, dizia ter encontrado o blog quando procurava massagem sensual, num domingo pela manhã. Queria ser atendido em sua casa e deu sequência ao contato por zap. Me pegou escrevendo um conto e fui forçado a interromper para ir até ele. Nem desconfiava que voltaria de sua casa, não para retomar o conto interrompido, mas para iniciar um novo onde ele teria participação especial. Ele disse: “Opa, aqui é o Raphael. Seria a massagem sensual. Poderia por agora? ”. Respondi: “sim, mas precisaria de um tempo para me colocar em ordem e sair”, logo lhe enviaria o endereço e ele o uber para me buscar. Ele mandou: “tranquilo, no seu tempo”.
Era uma manhã nublada, o uber chegou rápido e quando passou pela Lagoa o céu azulou; vi nisso um presságio favorável de um cliente com nome de anjo. O carro entrou por uma rua muito arborizada, sem comercio e enveredou numa subida que ia revelando a cada casa, a cada condomínio o retiro silencioso, verde e discreto da alta burguesia carioca. O motorista me deixou em frente ao prédio que homenageava um músico cuja a obra é muito conhecida mas, seu nome não. Olhei a minha volta e só vi tons de verdes. 360 graus ao meu redor era tudo verde pontuado de flores.
A “Anunciação” feita, minha entrada foi liberada e tomei o elevador que me deixou de frente para a porta de serviço do apartamento. Um arcanjo entre 23 e 25 anos abriu a porta e me convidou a entrar, tinha olhos, cabelos, barba e asas negras, 1,70 e uns 72 kg. Atravessamos uma ampla sala naturalmente iluminada e entramos no seu quarto. A sessão de massagem fora do estúdio tem suas limitações: me pus a organizar a cama dele da maneira mais apropriada para executar o serviço. Sugeri uma música de matiz oriental e perguntei se ele usava incenso. Mostrou um pedaço perfumado de madeira que, segundo ele, era uma relíquia inca, um fóssil de madeira que exalava um agradável odor quando queimado. Eu me despia, sem pudor e lentamente, na sua frente.
Fechou a porta e abaixou as persianas. Deitou se já nu entre travesseiros e toalhas que dispusemos sobre a cama. Seu porte era bem feito e bem distribuído num corpo peludo de homem onde ainda remanesciam as formas da adolescência. Os braços macios, a bunda redondinha e perfeita; as mãos bonitas com seu toque suave bolinavam minhas bolas e massageava meu pau durante a sessão. Era agradável e prazerosa nossa troca de contato manual! Minha rola tava dura e tocava nele o tempo todo. O massagista nu, com seu cliente, sobre a cama tem muito mais contato (corpo a corpo) durante a massagem do que em pé ao redor da maca. Nossas formas se reconheciam e se encaixavam.
Minhas pernas se alternavam entre as deles e nossos pés se casaram. Massageei os dele à beira da cama e depois voltei para cima dele com o vibrador descontraindo os músculos flexíveis de todo seu corpo. A intimidade necessária para chegar na “finalização” ia se formando. Mas, meu instinto me dizia que ele não desejava nenhum tipo de estimulação anal. Lentamente eu ia abrindo mão das esperanças de papar o anjo. Acariciava sua nuca de cabelos negros e a ponta e suas orelhas; nossos corpos se entrelaçaram e se beijaram muito e bem. Rolavamos um sobre o outro e eu indiquei meu pau bem duro pra ele chupar. Ele caiu de boca mas, lentamente sua língua ia descendo pela minha virilha até alcançar aquele pomo que temos embaixo do saco, antes do cu: o períneo.
Compreendi suas pretensões: virei de bunda pra cima, o cu apontando pro teto, a cabeça afundada no travesseiro. Ele me linguava com o frenesi de um corredor que avista a linha de chegada mas, entende que não deve se apressar. Sua barba parecia de veludo e sua língua úmida massageava toda minha região anal. Trocou lábios por dedos e deslizava-os em mim suavemente. Súbito sussurrou baixo uma tentação no meu ouvido: “posso te comer... Posso te comer? ” A menção da palavra “posso” deixava nítido que ele não entendia que me comer estava incluso no serviço. E de concessão em concessão eu me rendi na última. Perguntei: “você vai ser cuidadoso comigo? Eu não estou acostumado a dar, não faço isso com frequência, não tenho essa habilidade. Você vai ser carinhoso? ”
Deu sua palavra de anjo que não me faria sofrer. Disse que não o temesse pois, era o portador da cura para todos os males mundanos. Dizia-se o responsável pela transição do corpo em espírito e ter descido do firmamento para testar a minha fé. Convencido pelo olhar do querubim, confiei na sua palavra e fiquei na posição em que Napoleão se encontrava quando saiu batido da Rússia. A foto abaixo que ilustra esse conto também ilustra essa cena. É das raras que eu tenho nesse estilo. Espero não ofender a sensibilidade dos conservadores imprimindo uma imagem que a princípio não esperam de mim, exceto e por sorte: ele Raphael. Que saiu do quarto e logo voltou de camisinha e gel. Me encontrou tal qual havia me deixado: esperando a promessa se cumprir.
Ele parecia um pouco nervoso para encontrar o caminho e o guiei nessa tarefa. Ele foi gentil, apesar de doer um pouco a princípio. Mas busquei na memória experiências antepassadas e conclui que sempre dói um pouco. Passada a primeira ardência prossegui bravamente ajudando a posicionar sua rola estabilizada dentro de mim. Disse a ele que ficasse com o pau parado no fundo, aguardasse e sentisse: contraí com força o cu apertando seu membro lá dentro. Ele gemeu em cima de mim e pulsou o caralho lá dentro em resposta. Fizemos isso seguidas vezes até que eu cedi os joelhos e deixei me ficar em baixo dele, completamente entregue e confiante. Nossas mãos se apertavam enquanto ele metia devagarinho.
Mordia minha nuca como um gato e encaixava os dedos dos pés nos meus calcanhares. Era um macho jovem, predador faminto por comer um homem num sábado antes do almoço. Seu desejo era verdadeiro e me lisonjeava. Perguntou se eu gostaria de mais força: respondi que preferia devagar e sempre. Pedi que ele não tirasse o pau de mim. Começou devagar e gradualmente, a sensação do pau dele dentro de mim, era uma experiência inexplicavelmente boa e indolor: só me dava ondas sobre ondas de prazer. Meu pau ficou rígido durante todo ato da penetração. Eu transbordava em júbilo, cheio de um orgulho só meu, do prazer que ele me dava. Queria-o ciente da minha felicidade e comunicava-lhe breves palavras de agradecimento, sobre o ombro, que ele abafava com beijos molhados de amante carinhoso. Relaxei imóvel e seguro debaixo do peso dele.
O dedo divino de um ser celestial havia me tocado fundo no momento de dúvida e dor. Só não levitei durante o êxtase porque estava por baixo comprimido entre a cama, o peso de seu corpo e suas quatro asas negras que obscureciam ainda mais o que acontecia no quarto. Eu sabia que não teria chance de gozar e isso não importava. O prazer raro que ele me proporcionava compensava a falta do gozo. E é regra para mim que o que importa no final é a ejaculação do cliente e não a minha própria. O anjo anunciou que iria gozar e eu relaxei pra ele mergulhar fundo. Rugiu alto e todas as asas se eriçaram até a ponta das suas penas tocarem nervosas o teto do quarto.
Me levantei e ele me indicou “pode usar esse banheiro” logo em frente seu quarto. Atravessei de pau duro o corredor e entrei numa ducha poderosa e quente. Eu queria dar mais, queria que ele quisesse gozar mais, teria dado ali mesmo no banheiro e de novo na cama. Bastava ele querer. Então o anjo fez uma nova anunciação: acabara de receber uma ligação de seu irmão avisando que se dirigia pra lá! Eu lamentava a fuga iminente do paraíso perdido. Me enxuguei e me vesti rápido. Ele subiu as persianas e um fundo verde de paisagismo bem cuidado pretendia se confundir com a natureza virgem característica daquele bairro. Ele chamou o uber para eu voltar pro estúdio.
Mas antes do carro chegar, num gesto de perfeito romântico do século XIX, o barbudinho me oferecera o seu mais fino fumo, proveniente de uma charuteira com incrustações de madrepérola, que continha tudo necessário para fazer cigarro artesanal. Eu recusei. Ele me pagou e eu desci satisfeito e feliz com a visita. Abençoado os meus óculos escuros que impedem o escrutínio do mundo de enxergar minha felicidade. Entrei no carro ouvindo Rolling Stones. Não pude me impedir de mandar zap para ele dizendo: “foi incrível! Parabéns! É o primeiro cliente que me come. Acho que vou ter que ‘contar’ rs. Ele riu e disse: “só seja discreto, por favor, pois tenho namorada. Sei que vai ser”.
Se você acredita que essa aventura dominical se passou no Jardim Botânico e que o herói se chama Raphael... ou você me leva muito a sério ou tá de-li-ran-do!!! Sou discípulo de Agatha Christie, pupilo de Alfred Hitchcock. O segredo do que realmente se passa entre eu e o cliente é nosso e não me arriscaria a macular um encontro fantástico com indiscrições que exponham a privacidade de ninguém. Nenhum santo aqui será tratado pelo nome. Nenhuma localização será precisa. Nenhuma data será exata. Nenhuma informação ultra secreta irá vazar. É justamente a natureza misteriosa e velada das minhas atividades que me motivam a escrever consciente de que a ética profissional e o desejo mutuo de sigilo absoluto prevalecerão sempre nos meus esforços em “contar”.
Pleased to meet you Hope you guess my name But what's puzzling you Is the nature of my game ¹
Nota de rodapé.
1. 1- Fragmento da canção “Sympathy for the Devil” da banda The Rolling Stones.

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